segunda-feira, 30 de julho de 2018

Casa Cor 2018


Ao longo dos anos tenho tido o comprometimento em escrever sobre o evento. Um pouco por mim, pelas percepções pessoais e profissionais e um pouco pelo comparativo que tenho feito entre elas.
Nesta edição, percebe-se um pouco mais de ousadia, não que nas anteriores não tivesse, mas pela mescla de materiais, cores, texturas e principalmente em usar materiais de acabamentos e revestimentos em locais não tão prováveis.
Cores fortes e escuras tanto nas paredes como nos mobiliários deram um ar cênico aos ambientes. Fotos perfeitas. Mas não faltaram os tons claros, sóbrios e aconchegantes.
Se no ano passado o que prevalecia era a sensação de continuidade, perspectiva e vontade de seguir em frente, este ano vem a história aguçando os sentidos, tanto pela ideia de que ‘minha avó tinha’ como pela lembrança de um cheiro específico.  Se pudesse dar um nome para esta edição, seria: Sentidos - e reafirmo: A arquitetura mexe com os sentimentos.

Enquanto caminhava pensava se o fato de existir muitas peças de antiquário poderia levar o nome de ‘vintage’, mas vendo os revestimentos tive a sensação de estar em uma década especifica e o ‘vintage’ cairia no ‘mais do mesmo’, como quando usamos os móveis de antiquário num espaço modero. Não que ele não seja importante, é muito interessante por sinal, mas com o uso dos revestimentos ‘antigos’ isso me soou uma onda de lembrança e saudade. Mais uma vez o sentimento aflorou, e usar um móvel antigo com revestimentos e louças que remetam uma década (qualquer) passada é uma OUSADIA. Ousadia, pois o risco de não se fazer gostar é muito grande. E confesso que adorei.
Sobre os revestimentos e cores, seguiu a linha da madeira, do dourado, verde em todos os tons e todos os lugares com tintas e vegetação, o azul e vermelho também deram o ar da graça. Tudo muito junto e misturado causando a sensação de acolhimento. Lembrei-me da frase do professor Mario Sérgio Cortella: “Uma casa arrumada é uma casa triste”. Não que lá estivesse bagunçado, mas dava aquela impressão de que a mãe tenha dito: “Coloca o vaso naquela estante que cabe”.

Áreas externas são sempre valorizadas e desta vez me pareceu um convite para ‘estar’. Estar com amigos, pessoas que nos fazem bem, além de espaços para estar só meditando.
Notei que os forros tiveram uma atenção especial, não apenas com a iluminação, mas com os materiais, onde o gesso e o acartonado passaram por meros coadjuvantes e que se desvalorizavam ao ser comparado com os demais.  Muitos forros com laminados madeirados e trabalhos em recortes a laser.

Sobre a decoração em si, cada ambiente trazia uma recordação, passando pela cultura de diversos países. Muita informação, mas longe de pesar, onde o “Menos é Mais” ficou para trás. Agradou muito!
Costumo compara a Casa cor com desfiles de alta moda, onde na maioria das vezes pensamos: “Puxa, mas isso eu não posso usar .” E nos três últimos anos os profissionais expositores da Casa nos provaram que sim, podemos usar, podemos adaptar ao custo benefício e principalmente, nos mostram que é possível todas aquelas combinações.

As cabeças de animais, que em 2015 eram ‘de verdade’, em 2016 e 2017 eram obras de arte e este ano dava para contar nos dedos as peças muito bem escolhidas e coloridas. Pareceu-me que os animais foram substituídos pela vegetação que é a necessidade atual e constante do ser humano, encontramos planta dentro, planta fora, planta em todos os lugares... Muitas plantas.

Não sei dizer se esta superou a edição anterior que pra mim foi uma das melhores, mas senti que foi especial, ver coisas que às vezes não imaginamos ser possível, ali vimos que é.
Sobre a estrutura, é de tirar o chapéu quando percebo que a cada ano eles mudam o sentido da visitação, não sei se de propósito para que não nos influenciemos pelos anteriores ou ao acaso, mas funciona, não fica repetitivo. Sobre as equipes, também não sei se por esta ser a última semana onde todos deviam estar cansados, mas tive a impressão que nos dois anos anteriores estavam mais receptivos e atenciosos.
Enfim, este é um breve relato das minhas buscas e conclusões, o que não se  faz regra, apenas uma reflexão do que estar por vir.







Imagens: Rosangela Rodrigues

Rosangela Rodrigues | Arquiteta
Instagram: @arquiteta_rosangela